Cabelos de relva fria e densa do orvalho da manhã. Uma cadência espetacular. Sua silhueta é potência que nem as formas mutantes do deserto é capaz de alcançar. Caminha levemente sob as ondas de luz. Brinca de estrela. Navega na cintilação dos ventos nobres. Seu coração arde, flameja e jorra lavas de paixão. Sua pele brilha quando anoitece, derrete quando chove e cristaliza-se com a força do sol. Tem uma malemolência estranha e encantadora. E quando ela ri!? Ah, é um riso souto, espalhado, estridente, saltitante feito lebre no descampado. Suas mãos são alvas e ternas como a candura das águas doces. Mas é forte feito rocha. É filha do fogo e da terra. Tem um olhar arrebatador, que destrói, corrompe e fulmina as barreiras do dizível. É a garota dos olhos lilás, cor púrpura do céu das tardes de verão. Temperamento fugaz e volátil como o ar. Ela sonha em ser mulher, desbravar outros horizontes, seguir novos caminhos. Mas, suas convicções de vida, fazem-na saber: que há hora de plantar e hora de colher. E devagarzinho ela vai aprendendo, com o ciclo infinito da vida, com o romper de cada manhã, que a melhor forma de existir é caminhando sobre o hoje, rumo ao futuro, de pés descalços e alma lavada, de cara na chuva, sem medo de se molhar.
sábado, 14 de março de 2015
Sobre o tempo, movimento e ação: ~~28 de dezembro de 2012~~
Ah, o jambeiro do meu quintal, dono das minhas tardes de verão.
Se ele pudesse falar, com certeza diria:
-Sinto falta de seus pés, nos meus galhos.
E eu responderia:
-Sinto saudade de voar sobre as telhas, com a tua ajuda, no nosso balanço.
E sem presa dialogaríamos sobre como tem sido rápida a passagem das estações.
Se ele pudesse falar, com certeza diria:
-Sinto falta de seus pés, nos meus galhos.
E eu responderia:
-Sinto saudade de voar sobre as telhas, com a tua ajuda, no nosso balanço.
E sem presa dialogaríamos sobre como tem sido rápida a passagem das estações.
quarta-feira, 11 de março de 2015
Um sopro insano de sentidos
Perceber-se no mundo, enquanto indivíduo, dotado de particularidades imensuráveis e muitas vezes desconectado de um todo. Mas, ao mesmo tempo, circulando como uma espiral psicodélica dentro do corpus social, unindo-se e afastando-se das margens e delimitações estreitas que normalizam os sentidos e tentam uma homogeneização de formas e comportamentos é incrivelmente assustador.
"The life is hard", diz um personagem de uma série norte-americana. A sua dureza não está na rotina, no tempo infiel, na ambiguidade das ações dos outros, sua dureza liga-se muito mais ao sentido existencial. A compreensibilidade do seu Eu. Do duplo e obtuso campo em que cada um passeia. Aquilo que ora é performance, ora é real. Misturam-se a infinidade de circunstâncias e sentimentos que somados, conformam o nosso sentido individual.
Mas não adianta, aqui, tentar falar de minha filosofia barata de fundo de quintal. O que sei é que o infindável mundo interno de cada um é nebuloso, estranho e desforme.
E, sempre há aquele momento sinestésico, catalítico, ou sei lá o que, em que nos faltam palavras, objetos, comparações e meios pra explicar a força pujante que salta do fundo de nossos espíritos.
É uma grande passeata alegórica, colorida, sonora e ululante, correndo, nascendo, vivendo e gritando dentro de nós. Como se fosse aquelas enormes Tsunamis que recuam o mar para só então, depois, despejar toda a sua ira malévola e encrespada. Faltam razões, palavras, tato, cheiros, expressões.
É uma ciranda incontrolável de faltas. E quanto mais se nada contra a força da correnteza de nadas e faltas, mais o caminho passa a ser obscuro e vazio. É uma corrida medonha atrás do coelho saltitante, dono daquele relógio maluco. No entanto, correr acaba sendo a única saída. Pelo menos a mais proveitosa, no sentido de gasto energético. Correr (contra ou atrás do que?) nos ajuda a manter a fé no corpo, na carne, no plano objetivo-material.
E todas as vezes que o coração e/ou o cérebro insistem em não ajudar. Apelar para os instintos é a última e única saída. Então, você volta a caminhar, correr e nadar.
Não sei se um dia tudo isso passa. Se a quantidade de invernos modorrentos e verões excitantes, de uma forma ou de outra, preparam-nos pra vivenciar todo tipo de experiência.
O que posso dizer é que todas as vezes que um sopro insano de sentidos recai sobre nossos corpos e almas despreparados, somos afetados, modificados e recriamos novas maneiras de enxergar o mundo e nossa condição existencial.
quarta-feira, 4 de março de 2015
NOITE DOS PIRILAMPOS
Os pedaços esmigalhados dos fósforos antigos
Unem-se numa revolução de amor
Reacendem entre si os desconexos restos
daquela velha e mórbida esperança
A chama miúda, transmuta-se
Corporifica-se no espaço da existência
Dilacera o oxigênio-alimento
Torna-se labareda indômita
E já nos frangalhos da noite
Por todas as terras daqui e d'além mar
Só se ouve dizer
Que renascera a velha e incontrolável chama da virtude
Aquilo a que os loucos e bobos insistem em proclamar
Que os poetas lunáticos-frenéticos insistem em versificar
E os céticos-tapados não conseguem enxergar
É a labareda fulgurante da delícia de amar.
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