Do ventre sereno e materno
das matas,
Surge um assovio distante,
Que corta e corrompe o
silêncio dos imensos jequitibás
Num curto instante,
mangueiras, jaqueiras põem-se a dançar
Convite ao encontro de olhar
Assovia-se daqui e ouve-se
de lá
De repente, tambores,
chocalhos e repiques a soar
Convergem num grito de
guerra
Que personifica-se no ar
E num claro instante,
Da energia dos espíritos do
sol
Cingido pela força dos
talismãs da natureza
Nascido duma semente de luz
e beleza
Germinada na maciez da terra
Regado pelas fontes de água
doce e translucida
Forjado no fogo, de oxigênio
infinito
Brota o grande guerreio
sagaz
Sua pele vermelho-urucum,
cintila contra o sol
Seus pés ágeis e
sincronizados
Seguem o fluxo dos ventos
Tem a força motriz das
cachoeiras
Seu sangue é seiva da flor,
do mel, das árvores
Seus órgãos tem o formato de
fruta madura
Tem olhos de lince, rapina,
águia veloz
Cada centímetro seu, é,
também, parte do seu habitat
Existência simbiótica humano-florestal
E, como esse nobre guerreiro
Xamã
Existem outros centenas
mais!
Afluentes de um mesmo rio
Que se espalham de norte a
sul do Brasil
Cada homem, criança, mulher
Vive a cosmologia do
universo, do espaço
A ancestralidade, o amor à
vida natural
Os valores dos céus e da
terra
O respeito a dignidade
animal
Estabelecendo tessituras,
Trançando suas histórias com
força, cipó e fé
Erguendo abrigos contra o
mal invasor
Reafirmando as raízes diante
do mundo coisificador
Dentro dos Opy`s
Os mestres, àqueles que enxergam no escuro e
além
Convidam todos os povos a
lutar
E a batalha é constante, diária!
Uma guerra contra a
invisibilização
Contra o horror da
aculturação
Contra o silêncio duro da
lei e sua ordenação
Contra a matança odiosa da
simplificação
Contra a bestialidade da
caricaturização
Contra a perversidade da
expropriação
Então, num coro avassalador
Destruindo as correntes do
ciclo de terror
Guaranis Ñandeva, Mbya e Kaiowá
Farão se ouvir falar
Kayapós, Yanomamis, Arawetés
Libertar-se-ão do sensacionalismo
burro das TV`s
E, todo choro de sofrimento
e dor,
Dos Munduruku, Potiguara,
Kamaiurá
Finalmente cessará
Os raios solares atingirão
novamente a América do Sul e iluminarão a façanha
Da união magnânima dos
Amanayé, Xavante, Araweté, Pataxó e Miranha
Vencendo o ódio e derrubando
toda e qualquer artimanha
Uma chama indômita de paz e
fulgor
Queimará para sempre os
vestígios do medo e horror
E, do Oiapoque ao Chuí
Novamente, todos povos voltarão a
sorrir.
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